
RAI EQTPREV
2023
CENÁRIO
ECONÔMICO

No Brasil a prioridade no cenário econômico em 2023 foi a continuidade do processo de desinflação. As mudanças na política fiscal e as decisões econômicas do novo governo também foram temas importantes para o cenário nacional.
Mais uma vez, o desempenho do PIB em 2023 surpreendeu as projeções mais otimistas traçadas no começo do ano, e fechou o ano acumulado em 2,9%.
A necessidade de reequilíbrio da política fiscal continuou sendo a principal fragilidade da economia brasileira. A substituição da regra do Teto de Gastos pelo Novo Arcabouço Fiscal, que também estabelece limites para a trajetória de despesas, reduziu parte da incerteza em torno da política fiscal. Foram implementadas diversas medidas para aumentar a arrecadação, embora se espere uma diluição dos efeitos ao longo da tramitação dos projetos.
O mercado se mostrou complexo e imprevisível e isso ficou evidente até mesmo para as maiores empresas que não estão imunes a dificuldades. Testemunhamos o declínio do setor varejista tradicional, resultando em consequências desastrosas, juntamente com um dos maiores escândalos de fraude contábil da história. Além disso, tornou-se claro que a legislação não é tão precisa quanto deveria ser, com empresas solicitando recuperação judicial, mesmo aquelas que, por lei, não deveriam fazê-lo. Observamos uma mudança no comportamento do mercado de crédito privado, com gestores mais reativos, oscilações repentinas nos preços dos ativos e uma distinção mais clara entre o que é considerado de qualidade e o que não é.


Na renda variável, os mercados encerram de modo bastante positivo, a exemplo do Ibovespa, que renovou máximas históricas em dezembro, e do real, que terminou 2023 como um dos destaques globais.
Em termos de comércio internacional, houve uma mistura de desafios e oportunidades. As tensões comerciais entre grandes economias, como Estados Unidos e China, continuaram a criar incertezas para muitas empresas, enquanto acordos comerciais regionais e iniciativas de cooperação econômica ganharam destaque em algumas partes do mundo.
A inflação e as pressões sobre os preços foram uma preocupação em muitos lugares, alimentadas por interrupções na cadeia de suprimentos globais, aumento dos custos de energia e commodities e políticas monetárias expansivas adotadas por muitos bancos centrais para estimular a recuperação econômica.
Em 2023, a subida das taxas de juros de longo prazo nos Estados Unidos teve um impacto profundo na economia global, afetando diretamente países emergentes como o Brasil. Esse aumento, uma tentativa de combater a inflação nos EUA, resultou em custos mais altos para o crédito internacional e pressões sobre moedas estrangeiras, incluindo o real brasileiro. No Brasil, isso significou desafios adicionais para a gestão da política monetária, potencialmente afetando a inflação interna, o crescimento econômico e a estabilidade financeira.

Em resumo, o cenário econômico brasileiro em 2023 foi marcado por avanços no processo de desinflação e no crescimento do PIB, embora desafios persistam, especialmente na política fiscal e no ambiente de negócios. Globalmente, a recuperação pós-pandemia e questões como inflação, comércio internacional e pressões nos preços foram temas centrais. Apesar das incertezas e turbulências, o ano encerrou com sinais de melhora em diversas frentes econômicas, destacando a resiliência e a capacidade de adaptação dos agentes econômicos diante de um ambiente complexo e imprevisível.

PROJEÇÕES 2024
O Brasil entregou bons resultados no ano anterior, para o ano de 2024, em virtude de uma política monetária ainda contracionista, espera-se que o processo de gradual desinflação terá continuidade. Entre os principais vetores por trás desse comportamento, destaca-se a perspectiva de desaceleração de preços ao consumidor. Além disso em linha com a atividade econômica mais moderada e o mercado de trabalho menos aquecido, a inflação de serviços também deve apresentar alta menos intensa.
Para 2024 os especialistas projetam crescimento do PIB 2,2% com uma dinâmica mais homogênea entre os setores de recuperação dos investimentos e manutenção de um ritmo sólido do consumo das famílias. Deverá haver continuidade do processo de corte de juros da taxa Selic atingindo 9,25% a.a. Diante de um cenário global relativamente mais positivo e uma perspectiva de um fiscal sustentável no médio prazo.
As projeções de mercado indicam que ainda enfrentaremos déficits primários, tanto em 2024 quanto nos anos seguintes. Um ponto de preocupação será a compatibilização do limite de despesas de 2025 com as regras de reajuste dos benefícios da Previdência e os gastos essenciais do governo federal. Essa tensão poderá se tornar mais evidente em agosto, quando o Executivo deve apresentar ao Congresso a proposta orçamentária. Continuamos a observar a política fiscal como um tema de atenção, sem uma crise iminente, mas sem uma solução definitiva, ou seja, sem que o resultado primário retorne ao nível necessário para estabilizar a relação dívida/PIB.


No cenário internacional, aparentemente o ciclo de aperto monetário nas economias centrais atingiu seu nível máximo, porém ainda há dúvidas em relação ao início do processo de flexibilização. Cabe ressaltar que, nas últimas semanas, ganhou força a antecipação de um processo de queda dos juros nos EUA, em função de uma melhora no quadro inflacionário recente que repercutiu na queda da Treasury de 10 anos ao longo do mês de novembro. Entretanto, o cenário permanece com a perspectiva de queda da taxa de juros americana apenas para a segunda metade de 2024. Quanto à área do euro, o Banco Central Europeu deve manter as taxas de juros em patamar elevado até que a inflação mostre uma tendência mais clara de convergência em direção à meta.
Quanto à China, que vem entregando resultados esperados, a crise do setor imobiliário, contudo seguiu presente e ainda não demonstra sinais de que será superada nos próximos trimestres. O governo tem adotado medidas para compensar parte dos efeitos desse processo, no que se poderia chamar de uma “crise controlada”, mas os riscos seguem baixistas para o PIB.
De modo geral, com perspectiva de desaceleração do crescimento global, taxas de inflação ainda superiores às metas nas principais economias e juros em patamares restritivos, o ambiente econômico deve se mostrar menos dinâmico no decorrer de 2024.
